quinta-feira, 10 de abril de 2008

A CRUZ PELA CELEBRIDADE

“E subindo Jesus a Jerusalém, chamou à parte os seus doze discípulos e, no caminho, disse-lhes: Eis que vamos para Jerusalém, e o filho do homem será entregue aos principais dos sacerdotes e escribas, e condenar-lo-ão à morte. E o entregarão aos gentios para que dele se escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem, e ao terceiro dia ressuscitará. Então se aproximou dele à mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o e fazendo-lhe um pedido. E Ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino” (Mat.20:17a21)

Jesus enfrentava suas últimas horas de vida. Sobre seus ombros pesavam a dor e a angústia que daí a pouco sofreria no Gólgota. Eram instantes de profunda reflexão e intenso silêncio em sua alma.

Subia ele para Jerusalém. Caminhava solenemente para o momento maior que o havia trazido ao mundo. Passos dolosos. De repente se volta, olha para trás, enxerga seus discípulos. Quis compartilhar a sua dor. Pensava que teria a comoção dos seus seguidores. Explica-lhes com detalhes a situação. Conta até mesmo seu triunfo: ressuscitaria.
Mas, ao invés de expressão de dor nos rostos, contempla apenas indiferença. Não, aquele momento seria só seu mesmo. Ninguém iria estar com ele. O pastor seria ferido e as ovelhas se dispersariam.

De repente uma mulher se aproxima do Senhor. Ele a reconhece. Era a mãe de dois dos seus discípulos: João e Tiago, aliás, dois destacados discípulos que tinham o apreço do Mestre.
Ela interrompe a dramática narrativa de Cristo sobre sua paixão, morte e ressurreição e lhe faz um pedido: “...Dize que estes meus dois filhos se assentem um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu Reino”. Era uma mãe preocupada. Tinha ela todas as razões para pedir isso a Jesus, pois como mãe acompanhava a renúncia dos filhos, excelentes profissionais da pesca, para seguir o Mestre, então, nada mais justo do que terem a primazia no futuro reino de Cristo.
O pedido até que foi justo, mas foi feito fora de hora. Não era um momento propício para um pedido como esse, afinal, Jesus estava falando de sua dolorosa morte, enquanto ela e seus filhos já se ocupavam de uma eventual posição no Reino de Deus.

Estavam pouco preocupados com a cruz, com a morte, nem coma ressurreição de Jesus, que sem dúvidas, seriam as molas mestras do cristianismo. Eles não pensavam em Cruz, pensavam em posição, pensavam nas vantagens que poderiam ter, pensavam nas celebridades que se tornariam com o futuro reino de Israel, capitaneado pôr Jesus.

Penso neles como penso em muita gente hoje. Tem pouca ou nenhuma intimidade com a cruz. Pensam no evangelho como um meio e não como um fim. Pensam num Cristo que lhe traga vantagens, prosperidade, glória, fama e ufania. Esse é o evangelho atual que muitos vivem.
O que mais dói, é que isso vem de gente que deveria entender de cruz e não disso. Gente que está na dianteira, na vanguarda.

Não é à toa que o próprio Senhor Jesus, ao chamar João e Tiago para integrarem o colégio apostólico, lhes deu um nome, que soava como um apelido até: Boanerges, que significa: Filhos do Trovão (Mc3:17). No mínimo, eram barulhentos e queriam sempre a dianteira em tudo. Talvez pensassem que com Jesus se ganhava no grito. Enganaram-se redondamente.

A maior prova, foi no episódio dos moradores da aldeia samaritana que não receberam a Jesus. O mestre ouviu de João um palpite no mínimo inusitado: “...Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez?” (Luc.9:54). Invocaram a Bíblia e sua suposta superioridade no Reino para amaldiçoar pessoas.

Sinceramente, estou farto de gente desse tipo. Arrogantes espirituais que se sentem intocáveis. A qualquer infortúnio invocam a Deus para amaldiçoar quem se levante contra “seu ministério”. Para eles, Deus é nada mais nada menos que seus patuás e amuletos para defende-los de opostos. Citam desenfreadamente como se fosse um veredicto final: “não toqueis nos meus ungidos”. Esquecem-se que os ungidos para serem ungidos, tem que no mínimo ter a unção do Espirito de Deus, e não uma massagem pastoral nas suas cabeças. Sei que vou chocar, mas fazer o que. É a realidade atual. Para essa gente, vale o que Jesus respondeu para os filhos do trovão: “...Vós não sabeis de que espírito sois”.